Boa noite caros seguidores, a jornada de realização do trabalho e as publicações (diário de bordo) neste blogue encontram-se na recta final, como tal decidimos publicar um vídeo que relembra tudo o que já foi falado relativamente ao Sistema dos Neurónios em Espelho e tudo o que isso envolve.
Abaixo encontram um vídeo de uma palestra dada na UCDAVIS MIND Institute, no qual poderão relembrar e aprofundar o tema.
Partindo da descoberta dos neurónios em espelho nos macacos e abordando as mais variadas áreas associadas a estes neurónios, apresentamos-vos um vídeo que, certamente, não vão querer deixar de ver!
Esperamos que seja do vosso agrado e que tenham aprendido e consolidado conhecimentos relativamente ao tema e a outros abrangidos no vídeo.
Caros seguidores, esta semana decidimos explorar a esquizofrenia e a sua possível relação com o sistema dos neurónios em espelho.
Esquizofrenia
"Distúrbio mental caracterizado pela retracção do indivíduo em relação às outras pessoas, delírios e ilusões, e tendência à ruptura com a realidade" in Dicionário de Termos Médicos, Michaelis (2008).
Cérebro de Utente Saudável Vs Cérebro de Utente com Esquizofrenia
Pessoas que sofrem desta patologia apresentam dificuldade no processamento de informação social, ou seja, défices cognitivos sociais, incluindo debilidade na teoria da mente e no processamento de emoção facial. De acordo com o estudo do artigo presente na hiperligação abaixo disponível, reuniram-se quinze pessoas com diagnóstico de esquizofrenia ou transtorno esquizoafectivo e quinze pessoas saudáveis (grupo de controlo, escolhido de acordo com o género e idade). Os participantes completaram uma estimulação magnética transcraniana (EMT) experimental concebida para medir a activação dos neurónios em espelho. Realizaram-se várias estimulações e observaram-se os resultados, em repouso e enquanto os participantes assistiam a clips de vídeo e vídeos que continham determinados movimentos. Durante a observação do movimento do músculo em estudo (abdutor curto do polegar direito), a actividade dos neurónios em espelho aumentou no córtex pré-motor. O input pré-motor ao córtex motor primário aumentou a excitabilidade cortical motora primária, o que resulta no aprimorar da âmplitude dos potenciaismotores-evocados quando a região cortical correspondente é estimulada. Consequentemente, qualquer aumento durante a observação da acção representa a activação dos neurónios em espelho, com o objectivo direccionado e acções significativas frequentemente induz-se uma resposta melhorada dos neurónios em espelho. Concluindo, com base nos resultados apresentados no artigo, pressupõe-se que a actividade reduzida do sistema dos neurónios em espelho contribui para a cognição social debilitada característica da esquizofrenia e de outras doenças psiquiátricas, como por exemplo o autismo.
Caros seguidores, esta semana o tema a tratar é a Terapia do Espelho aplicada à recuperação funcional em utentes pós-AVC - Acidente Vascular Cerebral. Dar-vos-emos a conhecer a Terapia do Espelho (ou Terapia-espelho) e os benefícios que esta proporciona na recuperação de vítimas de AVC.
Acidente Vascular Cerebral
É uma manifestação, muitas vezes súbita, de insuficiência vascular do cérebro de origem arterial: espasmo, isquemia, hemorragia, trombose (Manuila, Lewalle e Nicoulin, 2003). O AVC é um derrame resultante da falta ou restrição de irrigação sanguínea ao cérebro, que pode provocar lesão celular e alterações ou perdas das funções neurológicas. As manifestações clínicas subjacentes a esta condição incluem alterações das funções motora, sensitiva, mental, proprioceptiva, e da linguagem, embora o quadro neurológico destas alterações possa variar bastante em função do local e extensão exacta da lesão (Sullivan, 1993).
A interrupção da irrigação sanguínea e consequente falta de glicose e oxigénio necessários ao metabolismo, provocam uma diminuição ou paragem da actividade funcional na área do cérebro afectada (Rocha, 2003). Se a interrupção do aporte sanguíneo demorar menos de três minutos, a alteração é reversível, no entanto, se ultrapassar este período de tempo, a alteração funcional pode ser irreversível, provocando necrose do tecido nervoso cerebral.
O AVC pode ser causado por dois mecanismos distintos, por uma oclusão ou por uma hemorragia (Cohen, 2001).
O AVC isquémicoocorre quando um vaso sanguíneo é bloqueado, frequentemente pela formação de uma placa aterosclerótica ou pela presença de um coágulo que chega através da circulação de outra parte do corpo (Cohen, 2001). Há uma redução ou cessamento do aporte de sangue a uma determinada área do cérebro, consequentemente dá-se a morte celular dessa zona cerebral (se a interrupção durar mais de três minutos). O AVC pode ainda ocorrer devido a um ataque isquémico transitório. Este, refere-se à temporária interrupção do suprimento sanguíneo ao cérebro (Sullivan, 1993).
O AVC hemorrágico(acontece em 10% dos AVC’s) consiste na ruptura de um vaso sanguíneo, ou quando a pressão no vaso faz com que ele se rompa devido à hipertensão. A hemorragia pode ser intracerebral ou subaracnoideia. Em ambos os casos, o suprimento sanguíneo causa enfarte na área onde o vaso era responsável pela irrigação e as células morrem (Cohen, 2001).
As principais sequelas associadas ao AVC são os défices neurológicos que se vão reflectir em todo o corpo, uni ou bilateralmente, dependendo da localização e da dimensão da lesão cerebral, podendo apresentar como sinais e sintomas a perda de controlo motor, sendo que a disfunção motora mais comum é a hemiplegia (correspondente a uma lesão do lado oposto do cérebro). A hemiparésia ou fraqueza de um lado do corpo é outro sinal de AVC.
Introduzida por Ramachandran e Rogers em 1992, a Terapia do Espelho foi criada com o intuito de minorar défices sensório-motores e acelerar o processo de recuperação funcional, foi utilizada em pacientes com dor fantasma.
Actualmente, recorre-se a esta técnica para o tratamento da hemiparesia pós-AVC, a terapia do espelho consiste numa técnica na qual se usa um espelho de 2m x 2m, verticalmente apoiado sagitalmente no meio de uma caixa rectangular. A técnica sugere que uma rede neural responsável pelo controlo de uma mão numa determinada tarefa possa ser utilizada nos movimentos da outra mão, referindo-se à capacidade de memorização de um procedimento. O objectivo é reeducar o cérebro através de uma simples tarefa, onde o indivíduo realiza uma série de movimentos com o braço saudável, sendo que este é visto ao espelho como se fosse o braço lesionado.
Importância do Sistema dos Neurónios em Espelho
A forma pela qual é restabelecida a ligação entre os estímulos visuais e o movimento pode levar a uma resolução da paralisia aprendida em utentes pós-AVC, utilizando como meio o sistema dos neurónios em espelho.
Os neurónios em espelho envolvem interacções entre modalidades múltiplas, a visão, os comandos motores, a propriocepção; tais funções sugerem que estes neurónios possam estar envolvidos na eficácia da terapia-espelho neste tipo de pacientes, recordando que o primeiro mecanismo de aprendizagem é a observação e imitação.
No AVC, as reorganizações da imagem corporal no córtex sensório-motor podem gerar limitações reais do movimento, mas também outras que podem ser classificadas como paralisia aprendida. Tal acontece devido a um vaso sanguíneo obstruído no cérebro; as fibras que se estendem do cérebro para a medula ficam sem oxigénio e sofrem danos, gerando uma paralisia real, porém, nas fases iniciais de um derrame, o cérebro apresenta um edema, deixando também, temporariamente, alguns nervos simplesmente atordoados e desligados.
Durante este período, quando o membro não funciona, o cérebro recebe feedback visual negativo. Posteriormente à redução do edema, em virtude da vivência de um feedback visual negativo, é possível que o cérebro da pessoa fique com uma forma de paralisia aprendida.
Uma possibilidade é que caso exista um resíduo de neurónios em espelho sobreviventes e latentes, através da terapia-espelho ocorra um fornecimento de informação visual que possa reavivar os neurónios motores.
O seguinte vídeo demonstra um paciente pós-AVC, a efectuar a Terapia do Espelho. O utente tenta realizar o movimento com ambos os membros ao observar o reflexo do membro saudável.
Estudos comprovam...
Tal possibilidade foi investigada e confirmada por um grupo de pesquisadores que utilizaram num grupo experimental um protocolo composto pela terapia do espelho e vídeos onde os pacientes assistiam a movimentos realizados por pessoas saudáveis, para que, logo após a visualização do mesmo, tentassem usar seu membro superior parético para realizar os movimentos. Comparado com o grupo de controlo que realizou um protocolo de fisioterapia convencional e assistiu a um vídeo com símbolos geométricos, o grupo experimental apresentou resultados mais significativos. Do ponto de vista clínico, os estudos sugerem que a terapia do espelho pode acelerar a recuperação funcional de uma ampla gama de desordens sensório-motoras, tais como hemiparesia pós-AVC e outras lesões cerebrais.
Concluindo, os mecanismos neuro-fisiológicos envolvidos na explicação da terapia do espelho ainda não são claros. No entanto, relacionam-se com o efeito causado pelo feedback visual em áreas corticais sensório-motoras. Esse estímulo visual pode ser o suficiente para evocar a percepção cinestésica em certas circunstâncias. Neste contexto, a terapia do espelho é uma possibilidade segura e útil que tem vindo a demonstrar resultados positivos na recuperação funcional de pacientes com hemiparesia pós-acidente vascular cerebral.
Fonte: Machado, S., Velasques, B., Paes, F., Cunha, M., Basile, L.F., Budde, H., Cagy, M., Piedade, R., Ribeiro, P. (2010). Mirror therapy applied to functional recovery of post-stroke patients. Revista Neurociência, 19 (1), 171-175. - "Mirror therapy applied to functional recovery of post-stroke patients"
Esperamos que a informação tenha sido útil e do vosso agrado e que tenha despertado o vosso interesse em continuar esta viagem à descoberta do Sistema dos Neurónios em Espelho. Continuem a seguir-nos pois, como sabem, todas as semanas voltamos com mais novidades para partilhar convosco! Caso surjam dúvidas ou necessitem de mais informação não hesitem em contactar-nos, pois tudo faremos para vos esclarecer e ajudar a compreender melhor a temática dos Neurónios em Espelho.
Neurónios Saudáveis Vs Neurónios de Pessoas Autistas
O autismo é um distúrbio de origem multi-factorial que provoca disfunções na integração do processo sensório-motor. Estes utentes apresentam um comportamento característico com movimentos muito limitados e repetitivos, e com grande sensibilidade táctil e sonora.
O neurocientista Vilayanur S. Ramachandran, pesquisador do Centro para o Cérebro e Cognição, da Universidade da Califórnia em San Diego, acredita que as pessoas com comportamento autista têm dificuldades na expressão, compreensão e imitação de sentimentos, o que se torna um entrave no processo de empatia, ou seja, problemas na aprendizagem e socialização, devido a uma deficiência ou disfunção do sistema dos neurónios em espelho.
Alguns estudos corroboram esta teoria, por exemplo, comparação da capacidade de imitar expressões faciais de emoção entre indivíduos saudáveis e indivíduos autistas:
Indivíduos autistas apresentam uma activação mais fraca no giro frontal inferior (lobo frontal);
Crianças com síndromes em áreas motoras da face apresentam uma activação mais acentuada que as autistas na tarefa de imitação;
Os autistas apresentam uma maior activação das áreas visual direita e parietal esquerda - estímulos visuais e atenção motora.
Localização do Lobo Frontal (a vermelho) Fonte: Polygon data are from BodyParts3D Autor: Polygon data were generated by Life Science Databases(LSDB) Nota: Passe o cursor do rato por cima da imagem
Concluindo, embora ambos os grupos cumpram as tarefas de imitação, as estratégias neuronais utilizadas são diferentes. Os indivíduos saudáveis utilizam o mecanismo de espelhamento no hemisfério direito em ligação com o sistema límbico - córtex da ínsula - associado ao significado da emoção. Os indivíduos com autismo recrutam uma estratégia alternativa: o sistema de atenção visual e motora.
A visualização do próximo vídeo, ajudar-vos-á a compreender melhor esta relação entre o autismo e os neurónios em espelho.
No entanto...
De acordo com o estudo que se segue, os autistas podem ter neurónios em espelho normais...
Os neurónios em espelho são células do cérebro que são activadas quando alguém realiza uma acção ou observa outro a realizar essa mesma acção. Quando relacionados com o autismo, aceita-se a teoria que estes não estão a funcionar correctamente.
A ideia é que o mau funcionamento destes neurónios está por detrás das dificuldades que as pessoas com autismo têm para interpretar as intenções de outras e para revelar empatia.
Estudos anteriores concluíram que a actividade cerebral em áreas repletas destes neurónios é menor em autistas do que em pessoas saudáveis, quando ambos realizavam e observavam acções simples.
De acordo com o artigo da revista Neuron, o neurocientista Ilan Dinstein, do Instituto Weizmann, em Rehovot (Israel), investigou possibilidades alternativas. Para este, é possível que outras diferenças entre os grupos expliquem os resultados experimentais, tais como pessoas com autismo imitem movimentos mais lentamente que as outras, o que se reflectiria numa actividade cerebral diferente entre ambos.
Dinstein e outros colaboradores da Universidade de Nova Iorque conduziram uma nova actividade experimental com treze autistas e dez pessoas saudáveis. Os participantes realizaram movimentos manuais ou assistiram a movimentos realizados por terceiros enquanto a sua actividade cerebral era monitorizada por um aparelho de ressonância magnética funcional.
As áreas do cérebro ligadas ao sistema dos neurónios motores (córtex pré-motor e córtex parietal) foram activadas nos dois grupos. Contrariamente a estudos anteriores, o nível de actividade cerebral foi idêntica em ambos os grupos.
Além disso, observou-se que a actividade cerebral diminuiu nos dois grupos quando realizaram ou observaram as mesmas acções repetidas vezes, mas não quando as acções eram diferentes.
O resultado indica que, sob algumas condições experimentais, os neurónios em espelho de pessoas com autismo comportam-se como os neurónios das outras pessoas.
Afinal o autismo é uma consequência de uma disfunção no Sistema dos Neurónios em Espelho? Aqui fica a questão, há quem defenda que sim, há quem defenda que não.
A ciência é um vasto universo em constante evolução, mas o que seria da ciência sem o brilhante e enigmático cérebro humano?
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