Bem-vindos novamente caros seguidores,
Esta semana escolhemos o Desenvolvimento das Capacidades de Atenção Conjunta (AC) e a sua relação com o Sistema dos Neurónios em Espelho (SNE) como tema a apresentar.
Já abordado anteriormente neste blogue, os neurónios em espelho são activados quando executamos uma acção ou vemos outro indivíduo a executá-la. Estes neurónios estão intimamente relacionados com os processos de aprendizagem, nomeadamente, com a imitação, pois possibilitam a compreensão da acção e/ou da intenção de outro animal (racional ou irracional, dado que o primeiro estudo experimental foi realizado em macacos, por Rizzolatti) pela activação subliminar desta acção nos circuitos fronto-parietais.
A imitação tem um papel preponderante no desenvolvimento das capacidades sócio-cognitivas da criança, como tal, as alterações do desenvolvimento das capacidades de atenção conjunta podem ser sinais de alerta para o diagnóstico precoce das perturbações da relação e da comunicação.
Como poderão constatar ao longo desta publicação, as crianças que revelam este tipo de alteração, parecem não activar o sistema dos neurónios em espelho da mesma forma que as crianças saudáveis.
A capacidade de cada ser humano se organizar socialmente caracteriza e garante a sua sobrevivência e sucesso. O Homem é capaz de racionalizar sobre os outros e usar esta capacidade para compreender acções e intenções, e de aprender através da imitação, sendo esta a base da cultura humana (Rizzolatti & Craighero, 2004).
Posteriormente à descoberta do sistema dos neurónios em espelho (Rizzolatti, década de 90), neurocientistas europeus e americanos, em laboratórios separados e utilizando técnicas diferentes, concluíram que a propriedade espelho dos neurónios estava presente em diversas zonas cerebrais, como a área de Broca, responsável pela expressão verbal (Rizzolatti & Arbid, 1998; Rizzolatti & Craighero, 2004).
Os resultados sugerem que existem várias áreas corticais fronto-parietais onde o sistema dos neurónios em espelho está distribuído.
O estudo de Buccino et al. (2004), demonstrou a activação de áreas frontais (giro frontal inferior e córtex pré-motor) em humanos aquando da execução-observação de acções realizadas com a mão, boca e pés, recorrendo à ressonância magnética funcional (RMF). De acordo com o efector envolvido e seguindo um padrão somatotópico, diferentes sectores corticais foram activados.
Através de tomografia por emissão de positrões (TEP), os mesmos autores demonstraram a activação da área de Broca pela observação de acções.
Quando uma pessoa sente nojo, a parte anterior da ínsula é activada. O mesmo acontece quando observamos outra pessoa a cheirar um líquido de odor desagradável, o que se comprovou recorrendo à ressonância magnética.
Concluímos, portanto, que a área de Broca não está apenas envolvida no processamento da linguagem oral e no significado dos gestos linguísticos. Os Neurónios em Espelho (NE) podem ter contribuído para a génese da linguagem humana, servindo de base para a apropriação simbólica dos actos motores, devido à homologia proposta entre a área de Broca e a área F5 dos macacos, em simultâneo com a comprovação recente da participação da área de Broca no SNE.
Os NE estão envolvidos nos processos de compreensão das acções, da imitação e da empatia, bem como, na tarefa de simulação da leitura da mente ("Teoria da Mente"), na aprendizagem e no contágio de comportamentos como o bocejo ou o riso (Gallese & Goldman, 1998; Hurley & Chater, 2005).
Desde o nascimento, os bebés e as crianças têm comportamentos de imitação:
- Imitação Reflexa - são os primeiros a surgir. Os comportamentos reflexos em relação aos movimentos centrados na área da boca;
- Imitação Retardada - surge por volta dos 9 meses. Com actividades com objectos.
A imitação, a partir do segundo ano de vida do indivíduo, torna-se o principal meio de aprendizagem e é considerada importante na formação da identidade, dado que durante o processo de imitação, a criança reconhece continuidade temporal das acções e do seu próprio comportamento.
A imitação desencadeia-se através de um processo de partilha e de consciência da atenção do outro dirigida a um mesmo objecto, sendo significativamente importante à aprendizagem, ao desenvolvimento e no processo de assimilação da linguagem; relaciona-se com o desenvolvimento das capacidades de AC.
Informação sobre os processos neurofisiológicos sociais precoces no desenvolvimento das competências sociais da criança pode ser fornecida através do desenvolvimento das capacidades de AC, são-nos fornecidas pelas pesquisas mais recentes.
Os NE são responsáveis pela aprendizagem através dos processos de imitação e têm relevante importância no desenvolvimento das capacidades de Atenção Conjunta (Modelo Neurodesenvolvimental Executivo).
O desenvolvimento cognitivo, sócio-cognitivo e da linguagem na criança estão previstos pelo desenvolvimento das capacidades de AC, pois são o pré-indicador das capacidades sócio-cognitivas no desenvolvimento infantil (Mundy 2006).
A incapacidade de relacionar o afecto ou a intenção ao planeamento motor e à simbolização emergente pode levar à falha nuclear nas crianças com perturbações multi-sistémicas do desenvolvimento (Caldeira, 2001, citando Greenspan), que conduz às dificuldades na empatia, no pensamento abstracto, nas competências sociais, na linguagem funcional e na reciprocidade afectiva, descritas nestas crianças.
Considerando os estudos realizados sobre o autismo e o SNE, infere-se que a "falha nuclear no desenvolvimento" destes indivíduos pode estar relacionada com alterações observadas na activação dos NE.
e
Cumprimentos NeuroEspelhóticos,
As meninas do Sistema dos Neurónios em Espelho
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