sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Terapia do Espelho em Utentes Pós-AVC

   Caros seguidores, esta semana o tema a tratar é a Terapia do Espelho aplicada à recuperação funcional em utentes pós-AVC - Acidente Vascular Cerebral. Dar-vos-emos a conhecer a Terapia do Espelho (ou Terapia-espelho) e os benefícios que esta proporciona na recuperação de vítimas de AVC.


Acidente Vascular Cerebral

  É uma manifestação, muitas vezes súbita, de insuficiência vascular do cérebro de origem arterial: espasmo, isquemia, hemorragia, trombose (Manuila, Lewalle e Nicoulin, 2003).

  O AVC é um derrame resultante da falta ou restrição de irrigação sanguínea ao cérebro, que pode provocar lesão celular e alterações ou perdas das funções neurológicas. As manifestações clínicas subjacentes a esta condição incluem alterações das funções motora, sensitiva, mental, proprioceptiva, e da linguagem, embora o quadro neurológico destas alterações possa variar bastante em função do local e extensão exacta da lesão (Sullivan, 1993).

  A interrupção da irrigação sanguínea e consequente falta de glicose e oxigénio necessários ao metabolismo, provocam uma diminuição ou paragem da actividade funcional na área do cérebro afectada (Rocha, 2003).
Se a interrupção do aporte sanguíneo demorar menos de três minutos, a alteração é reversível, no entanto, se ultrapassar este período de tempo, a alteração funcional pode ser irreversível, provocando necrose do tecido nervoso cerebral.


  O AVC pode ser causado por dois mecanismos distintos, por uma oclusão ou por uma hemorragia (Cohen, 2001).

  1. AVC isquémico ocorre quando um vaso sanguíneo é bloqueado, frequentemente pela formação de uma placa aterosclerótica ou pela presença de um coágulo que chega através da circulação de outra parte do corpo (Cohen, 2001). Há uma redução ou cessamento do aporte de sangue a uma determinada área do cérebro, consequentemente dá-se a morte celular dessa zona cerebral (se a interrupção durar mais de três minutos). O AVC pode ainda ocorrer devido a um ataque isquémico transitório. Este, refere-se à temporária interrupção do suprimento sanguíneo ao cérebro (Sullivan, 1993).
  2. AVC hemorrágico (acontece em 10% dos AVC’s) consiste na ruptura de um vaso sanguíneo, ou quando a pressão no vaso faz com que ele se rompa devido à hipertensão. A hemorragia pode ser intracerebral ou subaracnoideia. Em ambos os casos, o suprimento sanguíneo causa enfarte na área onde o vaso era responsável pela irrigação e as células morrem (Cohen, 2001).

    

AVC Isquémico Vs AVC Hemorrágico
  As principais sequelas associadas ao AVC são os défices neurológicos que se vão reflectir em todo o corpo, uni ou bilateralmente, dependendo da localização e da dimensão da lesão cerebral, podendo apresentar como sinais e sintomas a perda de controlo motor, sendo que a disfunção motora mais comum é a hemiplegia (correspondente a uma lesão do lado oposto do cérebro). A hemiparésia ou fraqueza de um lado do corpo é outro sinal de AVC.




Terapia do Espelho

   Introduzida por Ramachandran e Rogers em 1992, a Terapia do Espelho foi criada com o intuito de minorar défices sensório-motores e acelerar o processo de recuperação funcional, foi utilizada em pacientes com dor fantasma.
  Actualmente, recorre-se a esta técnica para o tratamento da hemiparesia pós-AVC, a terapia do espelho consiste numa técnica na qual se usa um espelho de 2m x 2m, verticalmente apoiado sagitalmente no meio de uma caixa rectangular. A técnica sugere que uma rede neural responsável pelo controlo de uma mão numa determinada tarefa possa ser utilizada nos movimentos da outra mão, referindo-se à capacidade de memorização de um procedimento. O objectivo é reeducar o cérebro através de uma simples tarefa, onde o indivíduo realiza uma série de movimentos com o braço saudável, sendo que este é visto ao espelho como se fosse o braço lesionado.




Importância do Sistema dos Neurónios em Espelho

   A forma pela qual é restabelecida a ligação entre os estímulos visuais e o movimento pode levar a uma resolução da paralisia aprendida em utentes pós-AVC, utilizando como meio o sistema dos neurónios em espelho.
   Os neurónios em espelho envolvem interacções entre modalidades múltiplas, a visão, os comandos motores, a propriocepção; tais funções sugerem que estes neurónios possam estar envolvidos na eficácia da terapia-espelho neste tipo de pacientes, recordando que o primeiro mecanismo de aprendizagem é a observação e imitação.




   No AVC, as reorganizações da imagem corporal no córtex sensório-motor podem gerar limitações reais do movimento, mas também outras que podem ser classificadas como paralisia aprendida. Tal acontece devido a um vaso sanguíneo obstruído no cérebro; as fibras que se estendem do cérebro para a medula ficam sem oxigénio e sofrem danos, gerando uma paralisia real, porém, nas fases iniciais de um derrame, o cérebro apresenta um edema, deixando também, temporariamente, alguns nervos simplesmente atordoados e desligados. 




  Durante este período, quando o membro não funciona, o cérebro recebe feedback visual negativo. Posteriormente à redução do edema, em virtude da vivência de um feedback visual negativo, é possível que o cérebro da pessoa fique com uma forma de paralisia aprendida. 
  Uma possibilidade é que caso exista um resíduo de neurónios em espelho sobreviventes e latentes, através da terapia-espelho ocorra um fornecimento de informação visual que possa reavivar os neurónios motores.
  O seguinte vídeo demonstra um paciente pós-AVC, a efectuar a Terapia do Espelho. O utente tenta realizar o movimento com ambos os membros ao observar o reflexo do membro saudável.





Estudos comprovam...

   Tal possibilidade foi investigada e confirmada por um grupo de pesquisadores que utilizaram num grupo experimental um protocolo composto pela terapia do espelho e vídeos onde os pacientes assistiam a movimentos realizados por pessoas saudáveis, para que, logo após a visualização do mesmo, tentassem usar seu membro superior parético para realizar os movimentos. Comparado com o grupo de controlo que realizou um protocolo de fisioterapia convencional e assistiu a um vídeo com símbolos geométricos, o grupo experimental apresentou resultados mais significativos.

  Do ponto de vista clínico, os estudos sugerem que a terapia do espelho pode acelerar a recuperação funcional de uma ampla gama de desordens sensório-motoras, tais como hemiparesia pós-AVC e outras lesões cerebrais.




   Concluindo, os mecanismos neuro-fisiológicos envolvidos na explicação da terapia do espelho ainda não são claros. No entanto, relacionam-se com o efeito causado pelo feedback visual em áreas corticais sensório-motoras. Esse estímulo visual pode ser o suficiente para evocar a percepção cinestésica em certas circunstâncias. Neste contexto, a terapia do espelho é uma possibilidade segura e útil que tem vindo a demonstrar resultados positivos na recuperação funcional de pacientes com hemiparesia pós-acidente vascular cerebral.

Fonte: Machado, S., Velasques, B., Paes, F., Cunha, M., Basile, L.F., Budde, H., Cagy, M., Piedade, R., Ribeiro, P. (2010). Mirror therapy applied to functional recovery of post-stroke patients. Revista Neurociência, 19 (1), 171-175. - "Mirror therapy applied to functional recovery of post-stroke patients"


   Esperamos que a informação tenha sido útil e do vosso agrado e que tenha despertado o vosso interesse em continuar esta viagem à descoberta do Sistema dos Neurónios em Espelho.
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Caso surjam dúvidas ou necessitem de mais informação não hesitem em contactar-nos, pois tudo faremos para vos esclarecer e ajudar a compreender melhor a temática dos Neurónios em Espelho.


Cumprimentos NeuroEspelhóticos,
As meninas do Sistema dos Neurónios em Espelho

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